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Antônio Galdino: ‘Aos 71 anos, onde anda a minha Chesf?’; veja fotos históricas legendadas

  • Por PA4.COM.BR (TEXTO E FOTOS: ANTÔNIO GALDINO)
  • 17 de março de 2019
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15 de Março de 1948 – Empossada da primeira diretoria da Chesf

 

5 de Março de 1951 – inauguração do Ginásio Paulo Afonso/GPA

 

No dia do aniversário de 71 anos da Chesf, algumas imagens e texto para reflexão. O texto está um tanto longo mas, quem puder, leia até o fim… Vai ajudar na reflexão. (Professor Antônio Galdino da Silva)

 

Quando cheguei a esta região, bem no cantinho de cima da Bahia, de onde se vê, além do próprio território baiano, as terras de três outros Estados brasileiros – “bem ali”, como os sertanejos costumam medir as distâncias, como suas léguas de beiço – descobri grandezas que nunca passaram pela cabeça de um menino sertanejo…

 

Era o mês de Novembro de 1954, dia 20. Eu era um menino que ainda iria completar 7 anos em janeiro, dois meses depois. E na chegada, ainda muito cansado de tantas léguas de estrada de chão, em cima de um caminhão pau-de-arara, eu estava de olhos arregalados, espantados com as coisas grandes que ia encontrando pelo caminho.

 

Uma delas, que causou grande impacto em toda a minha vida, foi a grandeza o rio São Francisco que tivemos de atravessar, de Petrolândia, no lado pernambucano para Glória, no lado baiano.

 

E, em cima da enorme balsa, moleque inquieto, ia de um lado para o outro da embarcação, entre os carros e as pessoas, para ver o rio de todos os lados…

 

Quanta água! E eu pensava: o mar deve ser assim, desse tamanho…

 

Professor Antônio Galdino. Foto: Reprodução Facebook

Outra grande surpresa foi quando o caminhão entrou na chamada Vila Poty. Passou de frente das guaritas da Chesf e parou no meio da rua que fervilhava de gente. Todos estavam ali pela mesma razão do meu pai, João Galdino: buscar trabalho na Chesf que construía e já ia inaugurar a Usina de Paulo Afonso.

 

Meu pai começou a trabalhar na Chesf no início de mês de janeiro de 1955. No dia 15, a festa da inauguração da Usina de Paulo Afonso trouxe para a região o presidente do Brasil, Café Filho, ministros, governadores de vários Estados, a grande imprensa nacional. E a história da energia de Paulo Afonso ganhou o mundo. Até na voz de Luiz Gonzaga…

 

Porque meu pai era empregado da Chesf, onde foi gari, ajudante de pedreiro, guarda e ferramenteiro das oficinas, tive o privilégio de estudar nas Escolas Reunidas da Chesf. No Murilo Braga, como a professora Lindinalva Cabral dos Santos, na Escola Alves de Souza, com a professora Amanda Jatobá e no Escola Adozindo, com a professora Maria Amélia e outras. Fiz o Curso de Admissão ao Ginásio com a professora Etelinda Viana Martins. Entrei no Ginásio Paulo Afonso, sonho de muitos.

 

Anos depois, também fui contratado para trabalhar na Chesf e ali fiquei por mais de 36 anos, como auxiliar administrativo, depois fui gerente da Varig (pela Chesf), gerente e diretor do COPA, professor do COLEPA, primeiro gerente de Recursos Humanos de Paulo Afonso, coordenador de treinamento, assessor de comunicação.

 

Pude assim acompanhar a história da Chesf, mudando as paisagens e as vidas das pessoas na região e criando uma nova história para o Nordeste. Vi a grandiosidade das muitas águas da Cachoeira de Paulo Afonso, diminuindo a cada ano, em nome do progresso. Vi as usinas hidrelétricas se multiplicando e funcionando a toda carga para atender à grande demanda exigida pelo Nordeste.

 

Também acompanhei, nessa vida parelha com a Chesf – porque somos do mesmo ano, 1948, e eu que nasci em janeiro, ainda dois meses mais velho que ela que nasceu em março – e vi as coisas mudando, o carinho e os cuidados que a Chesf sempre teve com Paulo Afonso, esvaziando.

 

Acreditei, por anos, na afirmação de um dos presidentes da Chesf, e ex-ministro Antônio de Oliveira Brito, que dizia “A Chesf não tem dono, nem senhor”. Até descobrir que a Chesf sempre teve muitos donos. Cada novo presidente do Brasil se sentia dono da Chesf e, como tal, tomavam decisões, quase sempre com interesses duvidosos ou ocultos e, com isso foram mudando a imagem da Chesf.

 

Aos poucos os novos dirigentes, sempre indicados entre os apadrinhados de algum partido político, passaram a direcionar os caminhos da Chesf de acordo com o interesse do dono da vez. Reduziram as tarifas com o objetivo de se conseguir mais votos dos mais humildes nas próximas eleições.

 

Transformaram a maior empresa do Nordeste, a responsável pela sua redenção, sempre dando muitos lucros, que até tinha uma parte deles dividida com os empregados, todos os anos, em uma subsidiária de uma holding cheia de outras empresas deficitárias que foram salvas pelos lucros da Chesf.

 

Foram nomeados presidentes com a missão clara de fazer o desmonte da grande empresa que milhares de pioneiros, sertanejos, construíram.

 

Em Paulo Afonso, berço da Chesf, que tem a capacidade de gerar mais de 85% de toda a energia de origem hidráulica da Chesf, a memória e a história tem sido sucateada a toda hora.

 

Derrubam-se prédios históricos, fecharam todas as escolas que eram modelo para todo o Nordeste, destruíram o zoológico que era um apoio ao turismo. O bondinho, a grande atração turística disponibilizada pela Chesf, está fechado a cerca de 8 anos…

 

E agora, apregoa-se aos quatro ventos que também vai-se fechar o único hospital que atende a população de mais de 20 municípios em quatro Estados nordestinos. Isso depois da Chesf alardear por dezenas de anos que estas ações eram a parcela de contribuição da hidrelétrica à região, constando em seus planejamentos plurianuais como “a responsabilidade social da Chesf para a região”.

 

Todos os anos, o aniversário Chesf era uma festa em todo canto. Havia desfiles cívicos nos primeiros tempos, festa grandiosa nas cachoeiras, entrega de medalhas aos funcionários pioneiros, missas e cultos evangélicos em ação de graças. Lembro de uma vez que o Dr. Bragança, Diretor de Operação da Chesf, muito querido, veio a Paulo Afonso para participar de um culto em ação de graças na 1ª Igreja Presbiteriana em um aniversário Chesf…

 

Hoje, 15 de março de 2019, a Chesf completa 71 anos de sua instalação, em 1948, embora tenha sido criada pelos Decretos 8.031 e 8.032, levados pelo Ministro da Agricultura, Apolônio Jorge de Farias Sales, para serem assinados pelo presidente Getúlio Vargas, o que aconteceu em 3 de Outubro de 1945. Há 10 dias, em 5 de março, foi o marco do aniversário do Ginásio Paulo Afonso, inaugurado pela Chesf em 5 de Março de 1951…

 

Essas memórias aqui trazidas nesta data não são saudosismo piegas como podem dizer alguns e, certamente, os tecnicistas e os interessados pelo desmonte total da Chesf já tenham respostas prontas para a minha pergunta. É justamente esse o seu papel.

 

Porque o interesse maior é sucatear esta grande empresa e privatizá-la, vendê-la a preço de banana e os insanos que se propõem a isso sabem que privatizando a Chesf estarão também privatizando o rio São Francisco porque as Usinas instaladas pela Chesf entre Sobradinho, na Bahia e Xingó, em Sergipe são todas movidas por um único combustível: as águas do rio São Francisco, já tão poucas…

 

Ou alguém acha que os mega-empresários, bilionários chineses ou de outros lugares vão comprar a Chesf e apenas ficar olhando os seus dólares seguirem o leito do rio até à sua foz?

 

Mesmo sem festa, como antes, o aniversário de 71 anos da Chesf, deve servir como mais um motivo para se refletir os interesses escondidos de alguns que para conseguir os seus intentos procuram, a todo tempo e de todas as formas, tornar pequena, enfraquecida a maior empresa do Nordeste brasileiro, responsável maior pela sua pujança e desenvolvimento hoje, porque o Nordeste tem sua história dividida em duas partes bem distintas: a de ANTES e a de DEPOIS da Chesf.

 

O resto é conversa besta e tendenciosa de quem não conhece nem se importa com a Chesf nem com a região, especialmente a região de Paulo Afonso, berço da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco.

 

Mas, dói muito para quem viu nascer esse sonho, para quem ouviu durante décadas o som da sirene da Chesf chamando os empregados para a grande obra, ouvir de um desalentado pioneiro que “No aniversário dos 71 anos da Chesf, ao invés de fogos e fanfarras, ouve-se o som, não tão distante, da marcha fúnebre”.

 

VEJA, em algumas fotos (42) uma brevíssima história da Chesf.

 

Engenheiro Apolônio Sales, criador da Chesf. (Delmiro deu a ideia / Apolônio aproveitou / Getúlio fez os Decretos/ Dutra realizou.
Movimento em frente às guaritas da Chesf nos anos de 1950
Trabalhadores da Chesf, chamados de “cassacos”, cavando os túneis para neles serem instalados os geradores da primeira usina de Paulo Afonso, inaugurada em 15 de janeiro de 1955.
Dr. Marcondes Ferraz, de capacete branco, no centro e operários da Chesf, em frente da Usina Paulo Afonso.
Inauguração da Usina Paulo Afonso pelo presidente João Café Filho, em 15 de janeiro de 1955.
Trabalhadores da Chesf, chamados de “cassacos”, cavando os túneis para neles serem instalados os geradores da primeira usina de Paulo Afonso, inaugurada em 15 de janeiro de 1955.
Apolônio Sales na Cachoeira de Paulo Afonso
Montagem das ensecadeiras em Paulo Afonso (Outubro de 1952) para desviar o rio São Francisco.
Casa de Hóspedes da Chesf, primeira construção de Paulo Afonso, ainda em 1945/46 para apoiar às obras da Usina Piloto, obra iniciada pela Divisão de Águas do Ministério da Agricultura e concluída pela Chesf em 1949.
Hospital da Chesf em 1949. Deu lugar ao grande Hospital Nair Alves de Sousa.
Médicos pioneiros da Chesf, dentre eles: Dr. Muccini – Lourival Burgos Muccini(o quarto, a partir da esquerda para a direita) e, ao lado, Dr. Orlando Passos de Azevedo (dentista), Dr. Roque Manoel de Oliveira, Dr. Militão Cesar, Dr. Teixeira – Manoel Josefino Teixeira. O último á direita é Dr. Edison Teixeira Barbosa que veio ser prefeito de Paulo Afonso por quase 8 anos.
Acampamento da Chesf em Setembro de 1953.
Acampamento da Chesf. Rua A, onde foi construído o coreto. Bem à direita parta da cerca de arame farpado que separava o Acampamento da Chesf da Vila Poty e, ao lado da cerca e no topo da foto, a estrada que levada à capital da Bahia.
Acampamento da Chesf. Rua A com a chapeira, em primeiro plano.
Mercado público e primeira feira livre de Paulo Afonso (funcionou neste local até 1960). Atual UNEB (antes foi Escola Parque). Ao fundo a Igreja de São Francisco.
Vista aérea de parte do Acampamento da Chesf, vendo-se, em primeiro plano o prédio onde funcionava o Banco da Bahia. Logo abaixo o Mercado Público (depois Escola Parque. Atual UNEB). Em frente, o campo de futebol (hoje Estádio Álvaro de Carvalho) e, na parte de cima do campo o COPA. Todos na Rua do Gangorra.
Igreja de São Francisco em construção, em 1949.
A marinete, o micro-ônibus dos anos de 1950…
E o papa-filas que levava trabalhadores para a obra e estudantes para as escolas da Chesf.
Sala de aula improvisada na Escola Alves de Souza. Foto de 28 de junho de 1949. A Chesf, cumprindo a exigência da Constituição de 1946, oferecia o ensino aos filhos dos empregados.
Escola da Chesf, em Junho de 1950. Dois alunos em cada carteira escolar…
Em Junho de 1950, alunos em frente à Escola Engenheiro Adozindo Magalhães de Oliveira (hoje UNEB).
Ginásio Paulo Afonso, em Julho de 1952.
Colégio Paulo Afonso uma semana antes de ser reformado e mudar de nome para IFBA.
Desfile cívico de 7 de Setembro de 1956, um ano após a inauguração da Usina Paulo Afonso. Ao fundo a Igreja de Fátima, inaugurada também um ano antes, no dia 16 de Janeiro de 1955, um dia após a inauguração da Usina. À frente do desfile a Banda de Música da Chesf.
No desfile cívico de 7 de setembro de 1956, as crianças do Jardim da Infância, da Chesf, desfilaram em um caminhão da Chesf.
Banda Marcial do COLEPA, tendo à frente o saudoso Cabo Barbosa.
Pelotões das Escolas Reunidas da Chesf no desfile de 7 de setembro de 1956.
Desfile do COLEPA…
Desfile de estudantes do COLEPA.
Pelotões de estudantes do Ginásio Paulo Afonso/GPA.
Desfile cívico dentro do Acampamento da Chesf, na Rua do Gangorra. À frente o pelotão das Bandeirantes, com a professora Lindinalva Cabral dos Santos.(à esquerda)
Monumento do Touro e Sucuri, inaugurado em 1962. Ao fundo a Igreja de São Francisco.
Presidente Dutra e comitiva visitando a Cachoeira de Paulo Afonso em Julho de 1947.
Cachoeira de Paulo Afonso em 2007.
Coral Chesf na Cachoeira de Paulo Afonso.
Professor Antônio Galdino filmando a Cachoeira de Paulo Afonso (?)…
Entrada a Usina Paulo Afonso I
Dr. Marcondes Ferraz e operários chesfianos em frente da Usina de Paulo Afonso
Complexo das Usinas de Paulo Afonso, 1, 2 e 3. Ao fundo, reservatório Delmiro Gouveia, concluído em Outubro de 1954, com capacidade de acumular 26 milhões de metros cúbicos de água.
Complexo hidrelétrico de Paulo Afonso, vendo-se em primeiro plano a Usina Paulo Afonso 4. Á sua direita o início do cânion do rio São Francisco (que tem 65 quilômentros até a barragem de Xingó). Ao centro as usinas Paulo Afonso 1, 2 e 3. Ao fundo, à esquerda, a Usina Apolônio Sales.
Usina Hidrelétrica de Xingó e lago de Xingó.