15 de Março de 1948 – Empossada da primeira diretoria da Chesf
5 de Março de 1951 – inauguração do Ginásio Paulo Afonso/GPA
No dia do aniversário de 71 anos da Chesf, algumas imagens e texto para reflexão. O texto está um tanto longo mas, quem puder, leia até o fim… Vai ajudar na reflexão. (Professor Antônio Galdino da Silva)
Quando cheguei a esta região, bem no cantinho de cima da Bahia, de onde se vê, além do próprio território baiano, as terras de três outros Estados brasileiros – “bem ali”, como os sertanejos costumam medir as distâncias, como suas léguas de beiço – descobri grandezas que nunca passaram pela cabeça de um menino sertanejo…
Era o mês de Novembro de 1954, dia 20. Eu era um menino que ainda iria completar 7 anos em janeiro, dois meses depois. E na chegada, ainda muito cansado de tantas léguas de estrada de chão, em cima de um caminhão pau-de-arara, eu estava de olhos arregalados, espantados com as coisas grandes que ia encontrando pelo caminho.
Uma delas, que causou grande impacto em toda a minha vida, foi a grandeza o rio São Francisco que tivemos de atravessar, de Petrolândia, no lado pernambucano para Glória, no lado baiano.
E, em cima da enorme balsa, moleque inquieto, ia de um lado para o outro da embarcação, entre os carros e as pessoas, para ver o rio de todos os lados…
Quanta água! E eu pensava: o mar deve ser assim, desse tamanho…
Outra grande surpresa foi quando o caminhão entrou na chamada Vila Poty. Passou de frente das guaritas da Chesf e parou no meio da rua que fervilhava de gente. Todos estavam ali pela mesma razão do meu pai, João Galdino: buscar trabalho na Chesf que construía e já ia inaugurar a Usina de Paulo Afonso.
Meu pai começou a trabalhar na Chesf no início de mês de janeiro de 1955. No dia 15, a festa da inauguração da Usina de Paulo Afonso trouxe para a região o presidente do Brasil, Café Filho, ministros, governadores de vários Estados, a grande imprensa nacional. E a história da energia de Paulo Afonso ganhou o mundo. Até na voz de Luiz Gonzaga…
Porque meu pai era empregado da Chesf, onde foi gari, ajudante de pedreiro, guarda e ferramenteiro das oficinas, tive o privilégio de estudar nas Escolas Reunidas da Chesf. No Murilo Braga, como a professora Lindinalva Cabral dos Santos, na Escola Alves de Souza, com a professora Amanda Jatobá e no Escola Adozindo, com a professora Maria Amélia e outras. Fiz o Curso de Admissão ao Ginásio com a professora Etelinda Viana Martins. Entrei no Ginásio Paulo Afonso, sonho de muitos.
Anos depois, também fui contratado para trabalhar na Chesf e ali fiquei por mais de 36 anos, como auxiliar administrativo, depois fui gerente da Varig (pela Chesf), gerente e diretor do COPA, professor do COLEPA, primeiro gerente de Recursos Humanos de Paulo Afonso, coordenador de treinamento, assessor de comunicação.
Pude assim acompanhar a história da Chesf, mudando as paisagens e as vidas das pessoas na região e criando uma nova história para o Nordeste. Vi a grandiosidade das muitas águas da Cachoeira de Paulo Afonso, diminuindo a cada ano, em nome do progresso. Vi as usinas hidrelétricas se multiplicando e funcionando a toda carga para atender à grande demanda exigida pelo Nordeste.
Também acompanhei, nessa vida parelha com a Chesf – porque somos do mesmo ano, 1948, e eu que nasci em janeiro, ainda dois meses mais velho que ela que nasceu em março – e vi as coisas mudando, o carinho e os cuidados que a Chesf sempre teve com Paulo Afonso, esvaziando.
Acreditei, por anos, na afirmação de um dos presidentes da Chesf, e ex-ministro Antônio de Oliveira Brito, que dizia “A Chesf não tem dono, nem senhor”. Até descobrir que a Chesf sempre teve muitos donos. Cada novo presidente do Brasil se sentia dono da Chesf e, como tal, tomavam decisões, quase sempre com interesses duvidosos ou ocultos e, com isso foram mudando a imagem da Chesf.
Aos poucos os novos dirigentes, sempre indicados entre os apadrinhados de algum partido político, passaram a direcionar os caminhos da Chesf de acordo com o interesse do dono da vez. Reduziram as tarifas com o objetivo de se conseguir mais votos dos mais humildes nas próximas eleições.
Transformaram a maior empresa do Nordeste, a responsável pela sua redenção, sempre dando muitos lucros, que até tinha uma parte deles dividida com os empregados, todos os anos, em uma subsidiária de uma holding cheia de outras empresas deficitárias que foram salvas pelos lucros da Chesf.
Foram nomeados presidentes com a missão clara de fazer o desmonte da grande empresa que milhares de pioneiros, sertanejos, construíram.
Em Paulo Afonso, berço da Chesf, que tem a capacidade de gerar mais de 85% de toda a energia de origem hidráulica da Chesf, a memória e a história tem sido sucateada a toda hora.
Derrubam-se prédios históricos, fecharam todas as escolas que eram modelo para todo o Nordeste, destruíram o zoológico que era um apoio ao turismo. O bondinho, a grande atração turística disponibilizada pela Chesf, está fechado a cerca de 8 anos…
E agora, apregoa-se aos quatro ventos que também vai-se fechar o único hospital que atende a população de mais de 20 municípios em quatro Estados nordestinos. Isso depois da Chesf alardear por dezenas de anos que estas ações eram a parcela de contribuição da hidrelétrica à região, constando em seus planejamentos plurianuais como “a responsabilidade social da Chesf para a região”.
Todos os anos, o aniversário Chesf era uma festa em todo canto. Havia desfiles cívicos nos primeiros tempos, festa grandiosa nas cachoeiras, entrega de medalhas aos funcionários pioneiros, missas e cultos evangélicos em ação de graças. Lembro de uma vez que o Dr. Bragança, Diretor de Operação da Chesf, muito querido, veio a Paulo Afonso para participar de um culto em ação de graças na 1ª Igreja Presbiteriana em um aniversário Chesf…
Hoje, 15 de março de 2019, a Chesf completa 71 anos de sua instalação, em 1948, embora tenha sido criada pelos Decretos 8.031 e 8.032, levados pelo Ministro da Agricultura, Apolônio Jorge de Farias Sales, para serem assinados pelo presidente Getúlio Vargas, o que aconteceu em 3 de Outubro de 1945. Há 10 dias, em 5 de março, foi o marco do aniversário do Ginásio Paulo Afonso, inaugurado pela Chesf em 5 de Março de 1951…
Essas memórias aqui trazidas nesta data não são saudosismo piegas como podem dizer alguns e, certamente, os tecnicistas e os interessados pelo desmonte total da Chesf já tenham respostas prontas para a minha pergunta. É justamente esse o seu papel.
Porque o interesse maior é sucatear esta grande empresa e privatizá-la, vendê-la a preço de banana e os insanos que se propõem a isso sabem que privatizando a Chesf estarão também privatizando o rio São Francisco porque as Usinas instaladas pela Chesf entre Sobradinho, na Bahia e Xingó, em Sergipe são todas movidas por um único combustível: as águas do rio São Francisco, já tão poucas…
Ou alguém acha que os mega-empresários, bilionários chineses ou de outros lugares vão comprar a Chesf e apenas ficar olhando os seus dólares seguirem o leito do rio até à sua foz?
Mesmo sem festa, como antes, o aniversário de 71 anos da Chesf, deve servir como mais um motivo para se refletir os interesses escondidos de alguns que para conseguir os seus intentos procuram, a todo tempo e de todas as formas, tornar pequena, enfraquecida a maior empresa do Nordeste brasileiro, responsável maior pela sua pujança e desenvolvimento hoje, porque o Nordeste tem sua história dividida em duas partes bem distintas: a de ANTES e a de DEPOIS da Chesf.
O resto é conversa besta e tendenciosa de quem não conhece nem se importa com a Chesf nem com a região, especialmente a região de Paulo Afonso, berço da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco.
Mas, dói muito para quem viu nascer esse sonho, para quem ouviu durante décadas o som da sirene da Chesf chamando os empregados para a grande obra, ouvir de um desalentado pioneiro que “No aniversário dos 71 anos da Chesf, ao invés de fogos e fanfarras, ouve-se o som, não tão distante, da marcha fúnebre”.
VEJA, em algumas fotos (42) uma brevíssima história da Chesf.